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21.1.09

TRANSPARENTE


Por vezes era como gostava de ser, transparente. Assim ninguém dava por mim, era imune ao mal. Assim não existia a dor, o sofrimento. Também não existia a alegria de viver, o rir, o gargalhar, o abraço apertado. Não havia nada.

Li e reli tudo o que tinha escrito pronto a publicar, mas nada do que lá estava me fazia sentir eu. Apaguei tudo, nem restos de nada ficaram.

Entrámos num novo ano, já lá vão 21 dias. As constantes promessas de mudança oiço-as em todo lado, com mais ou menos empenho, com mais ou menos força de vontade, mas oiço.

Só me sinto bem aqui, nas minhas 4 paredes, sózinha, no meu mundo. Num mundo que eu queria impenetrável, num mundo que eu queria cheio de borboletas, num mundo em que houvesse acima de tudo A VERDADE.


Desde que resolvi abir o meu coração às feras que não tenho tido a vida facilitada. Têm sido meses que eu não desejo nem à puta da brasileira loira que vai carregar o telemóvel lá na loja, têm sido meses de constante provação, de constante provocação, meses que estão a dar cabo dos meus nervos e que principalmente estão a acabar com a pessoa que eu sou. Cada qual tem os seus problemas e nem eu digo que os meus comparados com os teus, ou até mesmo com os teus, são maiores problemas. Os meus atritos comparados com o tentar encontrar um orçamento que fique dentro do orçamento familiar, para arranjar um carro, não são nada. O que eu tenho passado comparado com o que alguém passa porque chega à conclusão que afinal tem é colegas (obrigada pela parte que me toca), também não é nada. Isto comparado com o impasse que se vive quando se está prestes a adquirir o seu cantinho também não é nada. É nada, mas para mim é muito. É muito porque sou eu que o vivo, sou eu que o sinto e é a mim que se me revoltam as entranhas.

...

Praticamente todos os dias tenho que conviver com passados, passados mais distantes ou mais próximos, mas que não deixam de ser passados. Quase um ano depois, nunca abri a boca sobre esse passado que persegue, esse passado que todos os dias cresce, que todos os dias aprende uma coisa nova, um passado que te chama pai. Convivo com ele todos os dias e nunca questionei, aceitei-o porque é uma parte de ti. Ao contrário de mim, tu insistes em mexer na merda, insistes em relembrar o que eu enterrei, insistes em ressuscitar o que eu matei.


Por vezes sonho que chego ao abismo...
Paro...
Abro os braços paralelamente aos ombros e respiro de uma só vez todo o ar que os meus pulmões possam alguma vez absorver...Sinto a brisa fresca e húmida a trespassar-me a pele e penso por instantes em deixar-me cair naquele abismo tão profundo quanto a mágoa que o meu peito transporta.Fecho os olhos para soltar a lágrima... aquela última lágrima e recuo um passo atrás, seguido de outro e mais outro e mais outro, afastando-me assim do abismo e lançando-me de olhos fechados á minha sorte.Em cada passo recuado, uma voz faz-se latejar na minha cabeça...uma voz firme e doce, uma voz de força que me encoraja a viver com o que me resta, ou melhor, com o que me foi dado....
Uma nova Vida!
Abro os olhos, limpo a lágrima, olho em volta e tomo consciência do quanto já me afastei daquele abismo. Chego à conclusão o quanto este coração quer ainda viver e ser feliz e a tamanha esperança que o abarca. Retiro o escudo do meu coração e preparo-me para uma nova batalha frente a frente....Adquiro novas estratégias e estudo novos planos. Decido partir à conquista usando apenas o CORAÇÃO.

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